A RESPONSABILIDADE SOCIAL NO MINISTÉRIO DOS PROFETAS DO ANTIGO TESTAMENTO
A relevância das palavras desses homens não se perdeu com o passar dos tempos, pelo contrário suas profecias e sermões expressam de forma impressionante a contemporaneidade de seus ministérios para os dias de hoje. Relevância essa, especificamente abordado neste trabalho quanto à postura socialmente responsável desses homens.
A responsabilidade social é algo tremendamente presente no ministério profético do Antigo Testamento. Esses homens de Deus se posicionaram ante a injustiça social praticada em seus dias, e não se acovardaram diante de reis e poderosos, mas anunciaram em nome do Senhor a justiça de Deus – justiça essa que não é apenas espiritual, mas também uma justiça social.
Tema esse de grande importância tanto nos tempos antigos como nos dias atuais.
A Contemporaneidade dos Profetas
1. A responsabilidade social no ministério dos profetas
O termo profeta (em hebraico nabi) significa “falar por” ou representar (cf. ELLISEN. 1991, p. 209). Os profetas foram homens chamados individualmente e ungidos por Deus para o serviço de “emergência”, sua tarefa mais importante era agir como embaixadores ou mensageiros divinos, anunciando a vontade de Deus para o seu povo, especialmente em tempos de crise. Eram, acima de tudo, pregadores da justiça em dias de decadência moral e espiritual, e quase sempre agiam individualmente.
Suas mensagens eram relevantes para seus dias, falavam tanto ao povo quanto aos reis, eram audaciosos e intrépidos, ao ponto, de arriscar suas próprias vidas por causa da mensagem que traziam. Segundo Kivitz “os profetas eram legítimos representantes de Deus para Israel enquanto estado político e povo de Deus” (KIVITZ IN Caderno de Ação Social. 1998, p. 11).
A preocupação ética e social é evidente na mensagem dos profetas, pois, como representantes de Deus, não se furtavam a pregar contra as injustiças sociais existentes no meio ao povo de Israel. Segundo Nascimento Filho (1999, p. 39) “questões de riqueza, pobreza e justiça social constituem o ponto central do ministério dos profetas”.
A mensagem espiritual dos profetas surtia um efeito integral na vida dos israelitas, pois, diante de problemas políticos, sociais e religiosos do povo, clamavam contra o pecado, a injustiça e a apostasia; conclamando-o ao retorno à fidelidade e ao arrependimento. Esse clamor contra as injustiças sociais, sempre presentes em suas mensagens caracteriza a responsabilidade social como parte integrante do ministério dos profetas vetero-testamentários.
Isaías é conhecido como o profeta messiânico, isto é, ninguém falou mais sobre o advento do Messias do que o profeta Isaías. Mas ao se observar atentamente o ministério deste profeta, nota-se como a questão da justiça social também encontra uma posição de destaque em sua pregação. Como se vê em todo o livro de Isaías (1.17, 23; 3.14-15; 10.1-2; 32.6-7; 33.15-16), onde o Senhor por intermédio do profeta conclama a todo o povo de Israel em meio a sua decadência ética e moral, ao exercício pleno da justiça social, que é a verdadeira forma de piedade exigida por Ele:
“Porventura, não é este o jejum que escolhi; que soltes as ligaduras da impiedade, desfaças as ataduras da servidão, deixes livres os oprimidos e despedaces todo jugo? Porventura, não é também que repartas o teu pão com o faminto, e recolhas em casa os pobres desabrigados, e, se vires o nu o cubras, e não te escondas do teu semelhante?” (Is 58.6-7).
1.2. Os contemporâneos Jeremias e Ezequiel
Os profetas Jeremias (que fora enviado por Deus para decretar o Seu juízo sobre a nação de Judá) e Ezequiel (que exerceu seu ministério entre os exilados na Babilônia), apresentam em suas mensagens, a questão da opressão social como um dos motivos pelos quais o Senhor executara o Seu juízo sobre o povo (Jr 2.34; 5.28; 7.5-6; Ez 16.49; 18.12; 22.29):
“No meio de ti, desprezam o pai e a mãe, praticam extorsões contra o estrangeiro e são injustos para com o órfão e a viúva” (Ez 22.7).
“Assim diz o Senhor: Executai o direito e a justiça e livrai o oprimido das mãos do opressor; não oprimas ao estrangeiro, nem ao órfão, nem a viúva; não faças violência, nem derrames sangue inocente neste lugar” (Jr 22.3).
1.3. O profeta Amós
A ênfase na justiça social tornou-se a marca do ministério de outro profeta vetero-testamentário, o profeta Amós. Segundo afirma Ellisen (1991, p. 289):
“Nenhum profeta clamou contra a injustiça social com mais eloqüência do que Amós. O versículo-chave do livro tornou-se um clássico da justiça: ‘Corra porém o juízo como as águas e a justiça como o ribeiro impetuoso’ (5.24)”.
O profeta Amós falou com veemência contra a atitude de parcialidade dos juízes de Israel que torciam o direito e condenavam injustamente o necessitado:
“Assim diz o Senhor: Por três transgressões de Israel e por quatro, não sustarei o castigo, porque os juízes vendem o justo por dinheiro e condenem o necessitado por causa de um par de sandálias” (Am 2.6).
Bem como, às mulheres que não agiam com misericórdia, mas pelo contrário, instigavam a seus maridos a oprimirem os pobres, foram severamente condenadas pelo profeta:
“Ouvi esta palavra, vacas de Basã, que estais no monte de Samaria, oprimis os pobres, esmagais os necessitados e dizeis a vosso marido: Daí cá, e bebamos” (Am 4.1).
Kunstmann (1983, p. 67) comentando sobre essas palavras do profeta, diz:
“As mulheres, com suas exigências, levavam os maridos a oprimirem os pobres. E era uma constante estas ‘senhoras da alta sociedade’ exigirem dinheiro e bens de seus maridos, de sorte que estes não passavam de escravos das esposas... ‘Daí cá!’ Dinheiro é que interessa, dinheiro e vinho”.
A injustiças sociais haviam chegado a tal ponto nos dias de Amós, que não somente a liderança, a aristocracia e os juízes de Israel haviam se corrompido, mas até mesmo os comerciantes atuavam de forma fraudulenta, tornando a opressão aos pobres e necessitados uma ação generalizada em todo Israel:
“Ouvi isto, vós que tendes gana contra o necessitado e destruís os miseráveis da terra, dizendo: Quando passará a Festa da Lua Nova, para vendermos os cereais? E o sábado, para abrirmos os celeiros de trigo, diminuindo o efa, e aumentando o siclo, e procedendo dolosamente com balanças enganadoras, para comprarmos os pobres por dinheiro e os necessitados por um par de sandálias e vendermos o refugo do trigo?” (Am 8.4-6).
Segundo Hubbard (1996, p. 246) em sua mensagem o profeta Amós apresenta “as injustiças contra o pobre e as práticas desonestas no comércio como o motivo para dar fim à aliança”. O que concorda Ellisen e acrescenta que a mensagem de Amós advertia que “a nação estava prestes a ser destruída em virtude das injustiças sociais praticadas pela sua aristocracia contra os pobres e fracos, pois Deus é um Deus de justiça” (ELLISEN. 1991, p. 289).
1.4. O profeta Miquéias
Outro nome que se deva dar destaque quanto a sua atuação contra as injustiças sociais é o do profeta Miquéias. Segundo Ellisen (1991, p. 310) o objetivo da sua mensagem “era enfatizar o peso da próxima ira divina sobre a nação, em virtude dos seus pecados de violência e injustiça social, enquanto fingiam ser religiosos”.
Miquéias condenou as injustiças praticadas pelos poderosos que se apoderavam das terras dos pobres, usando para isso a força e o poder que tinham nas mãos:
“Ai daqueles que, no seu leito, imaginam a iniqüidade e maquinam o mal! A luz da alva, o praticam, porque o poder está em suas mãos. Se cobiçam campos, os arrebatam; se casas, as tomam; assim. Fazem violência a um homem e à sua casa, a uma pessoa e à sua herança” (Mq 2.1-2). Também no ministério de Miquéias as lideranças de Israel são condenadas por suas práticas injustas quanto ao direito e por terem edificado sobre o sangue inocente a cidade de Jerusalém: “Ouvi, agora, isto, vós, cabeças de Jacó, e vós, chefes da casa de Israel, que abominais o juízo, e perverteis tudo o que é direito, e edificais a Sião com sangue e a Jerusalém, com perversidade” (Mq 3.9-10).
Conclusão
Os profetas eram os defensores da lei do Senhor, fora sobre os seus fundamentos que anunciavam a sua mensagem ao povo. Eram verdadeiros guardiões das instituições, das normas, da religião e dos valores do povo de Deus. Valores esses que incluíam a justiça social, tema esse altamente relevante em nossos dias, principalmente nesse momento político-histórico por que passa o nosso país.
A mensagem dos profetas deve sair de nossas igrejas e seminários e chegar aos nossos tribunais, congresso e assembléias em alto e bom som, para anunciar o “assim diz o Senhor” conforme foi apregoado pelo profeta Zacarias:
“Executai juízo verdadeiro, mostrai bondade e misericórdia, cada um a seu irmão; não oprimais a viúva, nem o órfão, nem o estrangeiro, nem o pobre, nem intente cada um, em seu coração, o mal contra o seu próximo” (Zc 7. 9-10).
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
A Bíblia Anotada/ Texto bíblico: Versão Almeida, Revista e Atualizada. São Paulo (SP): Mundo Cristão, 1994.
Caderno de Ação Social. 2ª ed. São Paulo (SP): CBESP, 1998.
ELLISEN, Stanley A. Conheça Melhor o Antigo Testamento: Esboços e Gráficos Interpretativos. São Paulo (SP): Editora Vida, 1991.
HUBBARD, David Allan. Oséias: Introdução e Comentário. São Paulo (SP): Vida Nova, 1993.
KUNSTMANN, W. Os Profetas Menores. Porto Alegre (RS): Concórdia Editora, 1983.
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